Ah, que saudade da infância. Da infância que não existe mais.
Não falo apenas das brincadeiras simples, de jogar bola na rua com uma certa segurança, de brincar de balanço com um pneu, de subir em árvores, de soltar pipa, ou fazer castelinho de areia. Não falo do atual sedentarismo e vício tecnológico das crianças, mas da inocência.
Existem coisas que chegam ao absurdo. A infância chegou a isso.
Como pode? Como pode pequenos indivíduos serem mais maliciosos que os próprios adultos? Como podem ver o lado negro da vida? Deveria ser tudo colorido e limpo.
Deixam-me pasma as cenas que presencio todos os dias. Meninos e meninas pouco desenvolvidos com brincadeiras elevadas demais para sua idade, e pensar que nem eu cheguei a esse ponto. E pensar que o mundo esteja se deteriorando.
Admito que sempre fui atrasada para o meu tempo. Pelo menos quando tinha sete anos, a malícia chegava apenas nos palavrões que os outros proferiam, se não fosse por eles continuaria um longo tempo sem saber - não que eu os fale em público, mas os sei.
Aos sete anos, meu irmão faz coisas que me repugna. De que adianta repreendê-lo? A sujeira continuaria ao seu redor.
Pobres humanos, infelizes e desgraçados vermes - já diria Machado de Assis, com seus magníficos apelidos para conosco - não sabem a essência do que é ser puro, ter a mente limpa. Ver tudo como realmente é, sem deturpar a realidade, ou prestar atenção naquilo que não deveria ser enfatizado. Não sei o que acontece com essas meninas-mulheres que nascem tão desenvolvidas psico e fisicamente. Honro-me em ser lisa e ter tido minha verdadeira infância.
Não sei como levantar tal assunto sem críticas negativas, sem me alterar, sem começar a xingar a vida. Simplesmente não há palavras cultas que definam a realidade. Ela é assim: negra, suja e incoerente.
Se eu pudesse mostrar a esses pobres pequenos infelizes a alegria e o presente de ser uma criança, veriam o quanto perdem. Mais tarde saberão. Talvez não. Tornar-se-ão piores e arruinarão cada vez mais a humanidade. Afinal, nunca irão saber o que é aquilo. Da mesma forma que eu nunca irei saber como é roubar goiabas.