quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Pensamentos

E eu tenho essa possibilidade de me perder, de me perder em palavras. Me perder sem razão, na triste vontade de sofrer. Sofrer... Sofrer? Não, não. A perdição está tão longe do sofrimento, quanto minha mente está longe da quietude. Eu tive ânsia de mudança. Hoje estou diferente. Porque diferente nunca serei. Me entrego novamente a essa rajada de chuva incessante que paira todos os meses de fevereiro. Inunda... Inunda com graça e com pesar meu corpo sombrio. E se encolhe, tornando a murchar, escondendo com os ombros o peito que não para de bater; às vezes com tanto ardor, e em outros com languidez. Sem ritmo, incontrolável, perturbado. Meu coração acompanha minha alma arrítmica. E pesa, pesa, pesa muito que muitas vezes me deixa sem ar, em outras haha me faz cócegas. A inconstância é minha mais fiel personalidade.

Negros de cera

    Era negro, mas apenas seus ombros eram verdadeiramente negros. A pele era do tipo de negrume que de dia reflete o sol e de noite reflete o luar. Um negro-espelho. Como uma avelã negra, macia como se nascera agora há pouco apenas para se admirar.
    Já ela era negra. Completamente negra. Pela sua cor lustrosa corria a luz artificial do ônibus como se para preencher e iluminar as crateras da Lua. Sua pele era cera. Uma cera preta. Equilibrava-se com graça no ônibus para não se rasgar, e a mão fechava sem força na certeza do amortecimento do seu veludo negro. A regata branca ressaltava sua pele cor de pupila. Cor tão hipnótica que adentrou pela visão e se infiltrou em minh'alma.