quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Negros de cera

    Era negro, mas apenas seus ombros eram verdadeiramente negros. A pele era do tipo de negrume que de dia reflete o sol e de noite reflete o luar. Um negro-espelho. Como uma avelã negra, macia como se nascera agora há pouco apenas para se admirar.
    Já ela era negra. Completamente negra. Pela sua cor lustrosa corria a luz artificial do ônibus como se para preencher e iluminar as crateras da Lua. Sua pele era cera. Uma cera preta. Equilibrava-se com graça no ônibus para não se rasgar, e a mão fechava sem força na certeza do amortecimento do seu veludo negro. A regata branca ressaltava sua pele cor de pupila. Cor tão hipnótica que adentrou pela visão e se infiltrou em minh'alma.

Nenhum comentário: