sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Planta de poste

   Um lampejo – próximo a isso. Qual nome dar a uma faísca que surge e esvai em milissegundos? O resultado de um desfibrilador defeituoso e um organismo fraco. Um estrondo no vácuo. Tão encantador quanto falso. A inexistência de algo. O nada. A indiferença em seu fulgor absoluto.
   Uma planta nasceu em um poste. Planta-concreto, planta-vazio. Crescerá da forma que cresce a indiferença, murchará da mesma forma... Formas que murcham. Não fará nada, apenas permanecerá. Permanecerá com fios desencapados a chicoteá-la, a reanimar com choques brutos, porém doces para seu estado inerte.
   Uma planta-concreto não tem alma, tem ar, pois o ar torna sua carcaça fina; a torna barro. E barro desmancha, barro endurece.
   Então uma nova faísca, o retorno do orgânico. O desfibrilador suando, uma moeda girando, o ar se expandindo.
   Crac. Foi o som do âmago. Algo reluziu. Uma corrente conseguiu se alojar no vazio, forneceu calor e realizou um curto. Forte rajada propagou-se no antigo oco e não destruiu as paredes do pseudo barro. Não, o ar englobou a planta-concreto que tossiu.
   A tosse dos sentidos.
   Englobou uma planta morta que havia transferido a memória para o núcleo. Único bem. O sentimento de nada atormenta e massacra.
   Havia um palito e havia um cordão.
   O cordão enlaçou o ar, o palito torturou a bolha e julgou-a a criar resistência.
   Resistência, nada e indiferença.
   Sequer restou a coçada de costas para a planta sem membros.

Nenhum comentário: