Moira Sinuosa
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Tu que eu que nós maquinalmente dominamos o eu-lírico rides de mim. Mas ri sorumbaticamente.
Oh, pobre mariposa indomável, e não ao menos abestalhada. Tu que estilhaças os céus com teu culhão também retrai tuas asas ao ver um rebanho aéreo. Pobre de ti, lírica mariposa, tão vivente em si que apodreces teu som. Teu ritmo é taquicardíaco, metalizado, sempre cadenciado na mesma altifrequência. Lépido e inconstante, constando-se sua necessidade de única constância. Vives pra si e tão somente apodreces junto ao teu som. Rodopias quase caindo, quase morrendo, quase esmigalhando o ar. Porque o ar te esmigalha inteira. Contenha-se. Em redoma. Em casulo. Contenha-se. Contenha-se. Conter-se? Ora, é plausível que tu já te toda contenhas. Tu te contens a ti e a mim e ao eu-lirico teimoso que nao se contem em si. Com-se-ter nos tenho-com indomável contensão
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Pensamentos
E eu tenho essa possibilidade de me perder, de me perder em palavras. Me perder sem razão, na triste vontade de sofrer. Sofrer... Sofrer? Não, não. A perdição está tão longe do sofrimento, quanto minha mente está longe da quietude. Eu tive ânsia de mudança. Hoje estou diferente. Porque diferente nunca serei. Me entrego novamente a essa rajada de chuva incessante que paira todos os meses de fevereiro. Inunda... Inunda com graça e com pesar meu corpo sombrio. E se encolhe, tornando a murchar, escondendo com os ombros o peito que não para de bater; às vezes com tanto ardor, e em outros com languidez. Sem ritmo, incontrolável, perturbado. Meu coração acompanha minha alma arrítmica. E pesa, pesa, pesa muito que muitas vezes me deixa sem ar, em outras haha me faz cócegas. A inconstância é minha mais fiel personalidade.
Negros de cera
Era negro, mas apenas seus ombros eram verdadeiramente negros. A pele era do tipo de negrume que de dia reflete o sol e de noite reflete o luar. Um negro-espelho. Como uma avelã negra, macia como se nascera agora há pouco apenas para se admirar.
Já ela era negra. Completamente negra. Pela sua cor lustrosa corria a luz artificial do ônibus como se para preencher e iluminar as crateras da Lua. Sua pele era cera. Uma cera preta. Equilibrava-se com graça no ônibus para não se rasgar, e a mão fechava sem força na certeza do amortecimento do seu veludo negro. A regata branca ressaltava sua pele cor de pupila. Cor tão hipnótica que adentrou pela visão e se infiltrou em minh'alma.
Já ela era negra. Completamente negra. Pela sua cor lustrosa corria a luz artificial do ônibus como se para preencher e iluminar as crateras da Lua. Sua pele era cera. Uma cera preta. Equilibrava-se com graça no ônibus para não se rasgar, e a mão fechava sem força na certeza do amortecimento do seu veludo negro. A regata branca ressaltava sua pele cor de pupila. Cor tão hipnótica que adentrou pela visão e se infiltrou em minh'alma.
sábado, 24 de maio de 2014
Poesia sobre rodas (e com cobrador)
Guarde suas palavras e fale o silêncio. Escute a natureza e sinta seus pensamentos.
(Escrito inicialmente em inglês. Rima não proposital, culpa da tradução)
(Escrito inicialmente em inglês. Rima não proposital, culpa da tradução)
Porque eu sou... não somos... porque nada
Porque eu tenho um milhão de flores e nenhum amor
Porque eu tenho um milhão de amores e nenhum sabiá
Porque eu tenho um milhão de sabiás e nenhuma cor
Porque eu tenho um milhão de cores e nenhum céu
Porque eu tenho um milhão de céus sem espectador
Porque eu tenho um milhão de espectadores e nenhuma lareira
Porque eu tenho um milhão de lareiras e nenhuma dor
Porque eu tenho um milhão de dores sem flor
Porque eu tenho um milhão de coisas e ao mesmo tempo não tenho nada
Porque eu tenho um milhão de nadas e ao mesmo tempo um milhão de coisas
Porque esses são meus dois lados
Um que tem e outro escasso
Porque somos duas ideias contraditórias
Vivendo vidas paradoxais
Porque chamamo-nos ambíguo
E somos a dúvida sentada entre as duas pontas do caminho
Porque eu tenho um milhão de amores e nenhum sabiá
Porque eu tenho um milhão de sabiás e nenhuma cor
Porque eu tenho um milhão de cores e nenhum céu
Porque eu tenho um milhão de céus sem espectador
Porque eu tenho um milhão de espectadores e nenhuma lareira
Porque eu tenho um milhão de lareiras e nenhuma dor
Porque eu tenho um milhão de dores sem flor
Porque eu tenho um milhão de coisas e ao mesmo tempo não tenho nada
Porque eu tenho um milhão de nadas e ao mesmo tempo um milhão de coisas
Porque esses são meus dois lados
Um que tem e outro escasso
Porque somos duas ideias contraditórias
Vivendo vidas paradoxais
Porque chamamo-nos ambíguo
E somos a dúvida sentada entre as duas pontas do caminho
Estandartes anunciadores de ninguém
Tenho necessidade da solidão
Do soluço ritmado da gota d'água
Do som do raios do sol ascendente
Necessito de ninguém
E mais do que isso
Necessito de alguém
Pesa em mim a sofreguidão do eu-lírico
Sobrecarregado em agonia
Suplico a estes estandartes de timidez que abriguem sua sombra na minha
Unindo vergonhas, compartilhando solidões
Solidões escuras e de vestes mendigas
Do soluço ritmado da gota d'água
Do som do raios do sol ascendente
Necessito de ninguém
E mais do que isso
Necessito de alguém
Pesa em mim a sofreguidão do eu-lírico
Sobrecarregado em agonia
Suplico a estes estandartes de timidez que abriguem sua sombra na minha
Unindo vergonhas, compartilhando solidões
Solidões escuras e de vestes mendigas
Dias felizes de chuva são dias infelizes de ampulheta
Experimente ser engolido pelo passado e veja o quão asqueroso é estar no estômago do tempo.
O tempo nos dias de chuva torna-se confuso. As gotas caem cada uma representando: um período do seu passado; do futuro que virou passado; e do presente que passou. Cada gota repercutindo uma vibração gigantesca na sua sustentação. Mas o abalo é forte demais pra você resistir, você desaba e o chão embaixo vira farinha. Escorregando como areia no funil, como num brinquedo de criança.
O tempo nos dias de chuva torna-se confuso. As gotas caem cada uma representando: um período do seu passado; do futuro que virou passado; e do presente que passou. Cada gota repercutindo uma vibração gigantesca na sua sustentação. Mas o abalo é forte demais pra você resistir, você desaba e o chão embaixo vira farinha. Escorregando como areia no funil, como num brinquedo de criança.
Então, subitamente, um vapor se forma ao seu redor, denunciando seu enclausuramento na ampulheta. Você foi totalmente engolido pelo tempo. Esse tempo concreto despeja-se sobre você como um formigamento incômodo na cabeça, e vai passando para baixo, virando um lago de areia, te afogando. Não há muito espaço pra respirar. Então a ampulheta virou de cabeça pra baixo, ou seria agora de cabeça para cima? Como saber? A ampulheta é como um círculo: sem começo, nem fim.
A mesma areia que marcou o tempo passado agora marca o tempo presente. É a fusão abstrata que te enlouquece dentro desses vidros embaçados. Não saber a diferença entre o hoje e o ontem... essas duas palavras sequer existem mais. Também há essa nuvem negra acima da ampulheta, soltando trovoadas e fazendo a chuva chorar lá fora. Tudo o que você sente é o frio, mas nunca o contato. Sempre a lembrança, nunca a sensação.
A areia vai mofando em cima de você, a areia velha que marca o agora. Ou seria o outrora? E a ampulheta vai girando sempre ao avesso, marcando algo que não existe mais, fazendo pinicar esses grãos atormentadores em seu peito, enquanto a chuva se prega no vidro, estatelando-se toda, criando um som para te hipnotizar.
A mesma chuva que te fez sorrir um dia, hoje (hoje?) te causa dor, e um sentimento de completa inutilidade por não poder controlar as rodadas dessa ampulheta sádica. Aos poucos você vai perdendo a noção de tudo, a noção de si. Será assim, enquanto essa chuva que vomita o... passado... cair... Quem sabe depois o presente retorne ao seu ilusório equilíbrio.
Mas em mais quantos passados ela vai se demorar? Responda enquanto gir@.
Mas em mais quantos passados ela vai se demorar? Responda enquanto gir@.
Assinar:
Postagens (Atom)