Considerações iniciais: não tome como coerente as palavras aqui usadas, foram as primeiras que surgiram e que permanecerão, pois gravaram o ato.
O céu foi submetendo-se ao azul. Emergente à escuridão da noite e à densidade das nuvens. Chapiscado mais tarde de lampejos amarelos, meras faíscas tímidas anunciadoras do supremo e celestial Sol. E então o branco tenta a soberanidade. Incapaz. A tela torna-se tingida dos mais diversos tons, flocada por sonhos. Um avião corta-a, seu ruído longínquo na aurora que esbanja vida. O destino que leva e costura novamente o céu. Chamuscando lentamente, os gracejos pesarosos e humanos prostam-se de pé. Bocejos anunciam finalmente o dia.
05:02: o céu criou um emaranhado de enroladinhos de nuvens, dourados apenas de um lado - e espero que entenda o sentido ambíguo de dourar.
05:05: pequeninos voando no céu. E pensar que existe um mundo em cima de mim. Algodões amarelados transitam sobre minha cabeça que roda gratificada. Alguém pensa em mim.
05:07: o vento agradável começa a se dissipar. Está dando lugar ao ar artificial. Afinal, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar.
05:08: o Sol começa a agredir suas irmãs nuvens em um gesto quee assemelha-se a um incesto.
05:10: talvez mais alguns minutos para que o calor ferva o couro. Meu joelho é aflingido finalmente pela hora de contemplação. Tenho pouco tempo, muito pouco tempo.
05:11: as formigas sumiram da minha janela. Ou será que eu as matei? Pobres devaneios.
05:12: o primeiro ônibus saiu às 04:30. Calmo e silencioso, cuidadoso para não acordar ninguém. Agora seus cascos tamborilam e ululam nas lombadas em frenesi.
05:15: deixei de constar anteriormente. Não sei se é a visão que me falha, ou se é um privilégio concedido pelos perâmbulos - conceda-me o termo. Mas, as nuvens param. Sim, param. Como já disse anteriormente: "alguns param para que outros prossigam." Ninguém prossegue, elas param apenas para descansar e posar para nossos olhos atônitos.
05:18: um azul perfeito, puro. O escuro misturou-se com o branco e deu cor a isto. A magnitude da energia. Algumas garras invisíveis cortaram superficialmente uma nuvem de tecido. Infelizes flocos andarilhos.
05:19: já é hora. Adeus mãe natureza. Obrigada Deus, fadas, elementares ou energia. A quem for o diretor da peça, meus singelos e verminosos agradecimentos.
05:25: ao escovar os dentes e uma pasta de dente já "salivada" ameaçar cair no meu diário de bordo; uma palavra que me veio a memória: Concêntricos.
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