sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um por todos e todos por nenhum

    Solidão, amiga, hoje o texto é dirigido apenas a você.
    Havia relações que eu jamais ousei tocar profanamente o nome. Pensava estar certa, mas hoje vejo que não deveria tê-las posto em uma posição tão privilegiada do monte. Não mereciam tamanha confiança. Foram cumplicidades e histórias, anos e meses, risos e promessas, segredos e sonhos. Todos rachados.
    Sei que muitos passaram por isso, sabem do que falo. Relações que de nítidas vão embaçando com o tempo até tornarem-se opacas. Porém opacas só para você, nós. Para os outros... Ah, o que importa? Nunca foi um metal tão precioso.
    Ultimamente tenho estado distante de tudo - poucos que leem este confessionário provavelmente não suportam mais conflitos bestas que partem de mim, mas repetirei quantas vezes quiser que este blog nada mais é que o desabafo deles por menor que sejam. As pessoas parecem ter criado asco por mim. A timidez que foi embora deu lugar a um silêncio incômodo para os outros. O motivo é porque não me sinto mais a vontade com ninguém. Duvido muito que alguém ainda me conheça de verdade; o "eu" livre sem ser reprimido por nada. Duvido.
    Nos últimos três dias me aproximei de uma pessoa, não que isso não ocorra. Impossível. Mas foi uma aproximação verdadeira. Percebi que não existe nada no mundo que me fará mais próxima do que essa pessoa me fez. O resto realmente virou um definitivo resto.
    Aqueles dos quais preciso me afastar por bens maiores tornaram-se mais íntimos e fraternos do que os que me impõem a presença.
    Meu problema? Sempre acredito que as pessoas e situações vão mudar. Normalmente não mudam, mas nunca desistirei. Vou tentar até o fim, mesmo sabendo que meu afastamento piorará. Tenho medo de que se percam de mim. Que esqueçam de como eu sou.
    Torço para que aprendam a se importar com o pouco que represento. Serei cada vez mais falsa com elas, e se não me ajudarem, jamais me terão de volta. Temo pelo meu desapego com o mundo. Temo sobretudo com você, solidão. Creio que no futuro só restará nós duas. E seremos felizes, eu espero. Prometa a mim, pois eu não consigo ter mais nenhum apreço nem familiaridade com os que me cercam por comodidade. De fato, passei a te amar, solidão.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12/12/12

    A igualdade se despede.
    Números que não representam nada. Mas para mim e mais duas pessoas era um dia especial, em que se deveria fazer algo especial. Isso começou em 2008, o por quê? Vai saber. Superstições...? Não, apenas vontade de tornar os dias, meses e anos que caíssem iguais diferentes (contraditório querer tornar algo que é igual em desigual). Provavelmente pela exoticidade mereciam ser lembrados. Pena que todos só repararam nele agora, quando tornou-se o último. As pessoas normalmente só valorizam a última bolacha do pacote.
    Esse será um texto sem sentido e fútil. Nada de relevante. Mas por meu queridinho estar dizendo-nos adeus, resolvi parar para pensar nele.
    Notem que o 12 é constante em nossas vidas. A dúzia, a meia dúzia, as 12 badaladas, o mês mais esperado que é dezembro (12), o dia das crianças, doze dias para comemorar o natal, e no meu caso, os 12 grande amigos. Pouca coisa que lembro, mas fingiremos ser muito.
    É apenas isso, sem maiores proporções. Queria ter proporcionado um dia feliz para ele. Até seria, mas... Mas.
    Que a próxima geração valorize seus sucessores querida data. E para aqueles que consideram um mal dia, assim como a sexta-feira treze, vou tentar fazê-los mudar de ideia. Você é apenas uma vítima, não é? Deixará sua marca e ficará para trás, como um dia que passou.
    Sei que o tal fim do mundo que tantos insistem em acreditar nada mais é que a sua deixa. Dizendo-nos adeus. E concretizando, uma nova fase. Onde o que é comumente abrirá espaço para as diferenças (que sejam, no mínimo, harmônicas). Talvez, se somarmos os números, ainda haja uma certa igualdade nesse tempo que virá.
    Duvido muito.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Diário de um "Perâmbulo"

    Para quê dormimos tanto? Se acordássemos naturalmente horas mais cedo não perderíamos o espetáculo dos céus o qual eu narrarei, em uma noite que meus pensamentos me perturbaram e que resultou no meu rendimento a eles.
   Considerações iniciais: não tome como coerente as palavras aqui usadas, foram as primeiras que surgiram e que permanecerão, pois gravaram o ato.

    O céu foi submetendo-se ao azul. Emergente à escuridão da noite e à densidade das nuvens. Chapiscado mais tarde de lampejos amarelos, meras faíscas tímidas anunciadoras do supremo e celestial Sol. E então o branco tenta a soberanidade. Incapaz. A tela torna-se tingida dos mais diversos tons, flocada por sonhos. Um avião corta-a, seu ruído longínquo na aurora que esbanja vida. O destino que leva e costura novamente o céu. Chamuscando lentamente, os gracejos pesarosos e humanos prostam-se de pé. Bocejos anunciam finalmente o dia.

05:02: o céu criou um emaranhado de enroladinhos de nuvens, dourados apenas de um lado - e espero que entenda o sentido ambíguo de dourar.
05:05: pequeninos voando no céu. E pensar que existe um mundo em cima de mim. Algodões amarelados transitam sobre minha cabeça que roda gratificada. Alguém pensa em mim.
05:07: o vento agradável começa a se dissipar. Está dando lugar ao ar artificial. Afinal, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar.
05:08: o Sol começa a agredir suas irmãs nuvens em um gesto quee assemelha-se a um incesto.
05:10: talvez mais alguns minutos para que o calor ferva o couro. Meu joelho é aflingido finalmente pela hora de contemplação. Tenho pouco tempo, muito pouco tempo.
05:11: as formigas sumiram da minha janela. Ou será que eu as matei? Pobres devaneios.
05:12: o primeiro ônibus saiu às 04:30. Calmo e silencioso, cuidadoso para não acordar ninguém. Agora seus cascos tamborilam e ululam nas lombadas em frenesi.
05:15: deixei de constar anteriormente. Não sei se é a visão que me falha, ou se é um privilégio concedido pelos perâmbulos - conceda-me o termo. Mas, as nuvens param. Sim, param. Como já disse anteriormente: "alguns param para que outros prossigam." Ninguém prossegue, elas param apenas para descansar e posar para nossos olhos atônitos.
05:18: um azul perfeito, puro. O escuro misturou-se com o branco e deu cor a isto. A magnitude da energia. Algumas garras invisíveis cortaram superficialmente uma nuvem de tecido. Infelizes flocos andarilhos.
05:19: já é hora. Adeus mãe natureza. Obrigada Deus, fadas, elementares ou energia. A quem for o diretor da peça, meus singelos e verminosos agradecimentos.
05:25: ao escovar os dentes e uma pasta de dente já "salivada" ameaçar cair no meu diário de bordo; uma palavra que me veio a memória: Concêntricos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Decisões Fúteis

   Existem dois lados da sobrecarga. Um é o cansaço, a falta de tempo, o estresse e a inutilidade para diversas coisas. O outro é saber que você está sendo um pouco útil na vida, que tem compromissos como qualquer pessoa responsável. Dizer para todos: "eu não posso, tenho muita coisa para fazer." ou "estou sem tempo" e até mesmo se queixar com certo orgulho: "eu estou exausta".
   Sempre entro em dicotomia; inútil versus útil. Não sou só eu, sejamos francos. Os humanos são indecisos, frágeis, nunca  têm certeza de nada, vai ser sempre "eu acho", "talvez", "provavelmente"... 'A raça superior', como se fôssemos. Acredito fielmente em outros seres, em vida nas outras galáxias, nos outros planetas, nas outras formas de mundo seja lá como são. Não é possível sermos os únicos imbecis neste universo. Mas voltemos para a questão: eu.
   Agora a verdade. Por trás de toda essa sobrecarga, meu corpo e meu encéfalo estão clamando copiosamente por um minuto de paz. Sei que estou deixando muitos deveres passar, me tornando novamente um nada que se preocupa com nada, sente nada e vive por nada. E quando tenho um único dia para aproveitar, eu realmente aproveito; e adivinhem o que eu faço: nada! A essa altura já devem estar se perguntando porque continuam a ler, se quiserem podem ir, quem se importa? Eu não.
   Há lacunas nos meus pensamentos que precisam ser preenchidas. O tempo está me tirando duas das coisas mais preciosas que eu tenho: o pensamento e a imaginação. Não posso viver como uma demente, não de fato, mesmo assumindo que em diversos momentos posso me autodenominar assim. Gosto de refletir sobre a vida, sempre fui uma pessoa que tira um dia para ser monótona e distante do momento, vagando. O silêncio é tão bom. A solidão também. Não que eu não goste de companhia, é óbvio que eu gosto.
    Eu perdi esses meus momentos íntimos comigo mesma. O tempo que sobra é parar um momento, ainda em pé, mirar para um canto qualquer e imóvel, estabilizar a visão e alçar voo e tentar pensar e não pensar em nada, eliminar todo seu resquício de raciocínio. Tentem. Depois você volta de repente, em um susto. Quando perguntam "no que você estava pensando?". Nada, em tudo. Esses pequenos segundos são importantes. Nossa capacidade humana não consegue compreender a corrente de imagens e situações que passou como um raio, mas você sabe que passou. Isso é o que vale.
   Ontem - e o ontem depois de eu escrever isso pode ser qualquer dia - eu deitei finalmente na minha cama, sem ter nada para fazer a tarde e repousei. Foi bom, porém eu queria ter pensado. Fatos da vida que precisam da minha explicação. Teorias criadas por mim e que só irão ser usadas por mim porque para os outros podem ter pouco sentido, mas justificam tudo. Conclusões acerca do que é comum, transformá-las no diferente. Poder seguir minhas ideias a todo custo e depois de muito raciocinar poder descansar enfim. Afinal, tenho um sério problema: não consigo relaxar antes de sonhar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Decomposição do urso de pelúcia

    Ah, que saudade da infância. Da infância que não existe mais.
    Não falo apenas das brincadeiras simples, de jogar bola na rua com uma certa segurança, de brincar de balanço com um pneu, de subir em árvores, de soltar pipa, ou fazer castelinho de areia. Não falo do atual sedentarismo e vício tecnológico das crianças, mas da inocência.
    Existem coisas que chegam ao absurdo. A infância chegou a isso.
    Como pode? Como pode pequenos indivíduos serem mais maliciosos que os próprios adultos? Como podem ver o lado negro da vida? Deveria ser tudo colorido e limpo.
    Deixam-me pasma as cenas que presencio todos os dias. Meninos e meninas pouco desenvolvidos com brincadeiras elevadas demais para sua idade, e pensar que nem eu cheguei a esse ponto. E pensar que o mundo esteja se deteriorando.
    Admito que sempre fui atrasada para o meu tempo. Pelo menos quando tinha sete anos, a malícia chegava apenas nos palavrões que os outros proferiam, se não fosse por eles continuaria um longo tempo sem saber - não que eu os fale em público, mas os sei.
    Aos sete anos, meu irmão faz coisas que me repugna. De que adianta repreendê-lo? A sujeira continuaria ao seu redor.
    Pobres humanos, infelizes e desgraçados vermes - já diria Machado de Assis, com seus magníficos apelidos para conosco - não sabem a essência do que é ser puro, ter a mente limpa. Ver tudo como realmente é, sem deturpar a realidade, ou prestar atenção naquilo que não deveria ser enfatizado. Não sei o que acontece com essas meninas-mulheres que nascem tão desenvolvidas psico e fisicamente. Honro-me em ser lisa e ter tido minha verdadeira infância.
    Não sei como levantar tal assunto sem críticas negativas, sem me alterar, sem começar a xingar a vida. Simplesmente não há palavras cultas que definam a realidade. Ela é assim: negra, suja e incoerente.
    Se eu pudesse mostrar a esses pobres pequenos infelizes a alegria e o presente de ser uma criança, veriam o quanto perdem. Mais tarde saberão. Talvez não. Tornar-se-ão piores e arruinarão cada vez mais a humanidade. Afinal, nunca irão saber o que é aquilo. Da mesma forma que eu nunca irei saber como é roubar goiabas.

Pensamentos

    Subentende-se, subfala-se, subage-se, subnada.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Assim como os filósofos gregos, eu quero a razão

    Eu me vejo hoje angustiada com os sentimentos, angustiada principalmente com o sofrimento alheio. Parece que todos tem algo a dizer, e parece que o mesmo assunto me ronda.
    E isso é um martírio.
    Esqueço dos meus próprios sentimentos para ter os dos outros. Queria não me preocupar tanto.
    Não consigo.
    E eu estou precisando explodir. Estou precisando de alguém que se preocupe comigo, e que não critique. Não diga nada, não expresse nada, só escute.
    O excesso de compreensão que todos procuram em mim me machuca. E ninguém pode ver isso, pois também tem problemas.
    Não sei se meu pior problema é não ter um ouvinte ou eu mesma não me ouvir.
    Tenho nojo.
    Desprezo meu sentimentalismo. Queria voltar a ser a pessoa que deixou de amar e se importar, depois de ter sido tão boba.
    E isso é bom. Não ter sentimentos.
    Ou pelo menos dizer para si que não tem.
    Tentar acreditar nisso.
    Eu odeio fazer alguém escutar meus conflitos. Sinto vergonha. Sinto como se tivesse chateando-a.
    Eu quero não sentir, não ter nada para contar. Ser um mármore bruto. Uma pedra não esculpida. Jamais esculpida.
    Não sei pra quê, para quem foi feito o amor.
    Não foi para mim.
    Me sinto estúpida, talvez essa seja a palavra certa.
    Estúpida por pensar que alguém se importa. Ninguém.
    Que entenda minha ojeriza da feminilidade só eu mesma. Não gosto de me sentir submissa, comandada, vulnerável; comum. Quero ter poder sobre meus pés, minhas ações, e mostrar que precisará ter um novo conceito para poder me entender, e tratar.
     Eu só preciso focar no futuro, e esquecer do presente. Esquecer de tudo e de qualquer tipo de emoção.
     Enfim, me tornarei uma rocha.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Assim como as estações... passou

    É primavera, e logo mais será outono. Ainda recordo das auroras em que sentávamos debaixo das árvores, em cima de pilhas de folhas, e deixávamos o vento passar, levando consigo a brisa da primavera, e nos enlaçando em uma rede de clorofila e orvalhos.
    Recordo das tardes febris, em que o calor que brotava do chão e emanava dos corpos nos afastava, dando lugar a linhas contínuas de conversas e do conhecimento da profundidade dos olhos.
    Recordo das noites escuras, mas não sombrias. Não era o cobertor que nos aquecia, e sim o contato de almas. O contato de vidas. As estrelas testemunharam suas promessas e gravaram frases ditas ao luar. "Você teria sido o amor da minha vida". Teria. Não sou mais.

[Escrito para a aula de Redação do 2º ano do Ensino Médio. Conjunto ao texto, uma lembrança muito saudosa da professora Franci Franklin]

domingo, 27 de maio de 2012

Tudo por causa de um portão

    Não, não foi só por causa de um portão. Mas o despertar iniciou com um portão.
    Começou nos primeiros anos de vida, intensificou-se com o decorrer do tempo e então, finalmente tornou-se uma ideia fixa e consistente.
    E o que o portão tem a ver com isso?
    Foi em uma manhã, quando olhava para o portão no final da rua e lembrava das palavras que dias passados me falaram "Estou me sentindo presa".
    O tipo de frase que fica ecoando na sua cabeça. Já parou para pensar?
    Imagine que você pode correr livremente... nu, pelos campos infinitos, com as árvores a acenarem desejando-lhe um bom dia, e de repente, um muro. De pedra. Um muro que acaba com sua liberdade, que tira toda sua naturalidade.
    Depois de tanto processo de conscientização, e de tanta irrelevância diante do fato, parece que uma maçã caiu na minha cabeça.
    Lembrei de um dia, em que acidentalmente acordei cedo demais, e aquilo me deixara irritada. E mais uma frase ressoou na minha mente. "Você devia ver". Você devia ver o nascer-do-sol. Por que não? Afinal, já já a estrela saudaria-nos com seus braços quentes e acolhedores. E por um milésimo de segundo, pude sentir a brisa da manhã incidindo diretamente nos meus poros. Nada substitui a sensação de contato com a natureza, como se você se projetasse para outro plano, onde o verde, o azul, o colorido magnífico dos seres, predominam. Toda aquela paz fora cortada por uma simples casa, apenas isso bastou para a tranquilidade voltar para o bosque a quilômetros de distância da realidade.
    Uma simples e maldita casa que impedia a visão do paraíso. Os raios fúlgidos que a pátria tanto se exibe.
    Parece uma informação ignóbil. Mas pense bem... é?
    Não sei se foi a morte das tartarugas e tubarões, o círculo de poluição do pacífico, as diversas maneiras de reciclagem (e saber que só ajuda em parte), ou quem sabe o consumo excessivo e desenfreado que nos impossibilita de agir com lucidez. O consumo e a falta de maturidade nos aprisionam.
    A claridade da situação quase chegou a me cegar, inúmeros foram os erros cometidos por nós, meras criaturas mecânicas e insensatas.
    Hoje, não consigo mais me encaixar nesse cenário. Me sinto presa como todos os outros seres. Percebo o quanto a natureza está sufocada pelos prédios ao longo da avenida; o que resta da natureza. Bom seria mudar isso. Da noite para o dia. Imagino como viveríamos se nenhum avanço tivesse ocorrido, ou se ocorrido que pelo menos com respeito. Difícil criar essa cena, mas seria totalmente diferente da nossa realidade. Os Homens atuais não conseguiriam sobreviver se fossem projetados para essa época, mas se não existissem Homens atuais, seríamos apenas Homens naturais.
   E a naturalidade sempre foi um desejo de muitos. E agora é o meu.
   Quem sabe na próxima aurora todos acordem e deixem o sedentarismo de lado. Todos ativos mudando o planeta. Fazendo com que toda destruição se dissipe.

    "Bom seria mudar isso. Da noite para o dia."

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Odiado Século XXI,

    Me perdoe século XXI, mas não me identifico com você.
    Nunca gostei dessa sua superficialidade, dessa sua insensibilidade.
    Tão frio, tão monótono.
    Gosto de sentir o calor das épocas passadas, viver cada conflito, lutar por cada direito, fazer parte de uma sociedade que tem do que se recordar.
     Me chame de antiquada, ou do que quiser. Não mudo minha opinião.
     Século XXI, você continuará sendo para mim um perfeito inútil.
     Mas seria crueldade eu te acusar de forma tão injusta. Levantemos sua defesa.
     Senhor Atual, parabenizo-o pela ciência, pela liberdade, pela tecnologia e pela evolução.
     A ciência é a única que continua em uma avanço considerável.
     A liberdade... Bom, esta não é totalmente satisfatória. Pensamos estarmos libertos, mas somos apenas servos desses anos malditos, desses poderosos senhores de nossas mentes. A cada dia ingerimos novas drogas de persuasão e ilusão. Mal nos damos conta disso.
     Tecnologia, ah, como você é contraditória. Ao mesmo tempo felicita e ingrata. Reconheço sua utilidade, menosprezo sua facilidade.
      Admiro a coragem dos nossos pais e avós. Deslumbro a beleza de seus objetos materiais. Encanto com sua cultura.
      Porque foi tão doloroso? Poderia ter sido suave, acompanhando a leveza de seus passos de coreografias sublimes. Mas você não perdeu a graça.
       Ah, ensine ao seu filho. Como que se faz uma década, um século, um ano. Retroceda o egoísmo do homem. Restaure a natureza. Reviva os bons valores. Traga de volta os bons costumes.
      É a falta dos velhos hábitos que me enche de saudade. Por um tempo que não vivi. E que tampouco vou viver. Resta as lembranças. Construída a partir de terceiros. E a esperança de um dia, quem sabe, evoluirmos de verdade. E não artificialmente.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um novo começo

     E como em toda criatura, ou até objeto, passamos por evoluções. Esta é a nova fase do MOIRA SINUOSA. Depois de tantos textos depressivos, creio que já chegou a hora de receber a felicidade. Será minha vida de forma crua. 
    
     Sinto informar, mas não faço parte dos padrões de normalidade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Apenas a carcaça e uma trilha de estilhaços

    Se me ver pela rua com as mesmas roupas, com o mesmo penteado, com a mesma expressão, com o mesmo andar e com as mesmas manias... Saiba que mudei, não por você. Mas se chegar perto poderá ver meu rosto desgastado, meus lábios pálidos e meu olhar fúnebre. E se puder ver por trás da carne, verá o vazio. Pois esse corpo que perambula meio vivo e meio morto é apenas a carcaça do que restou de mim. Os sentimentos que guardei me consumiram, e você sabia que um dia eu iria explodir e que não conseguiria restaurar minha alma. Eu não confiei em ninguém para compartilhar meus temores, eu conservei tudo numa bolha, e como toda esfera frágil e destrutível, essa camada quebrou. Talvez você ainda encontre os estilhaços pelo caminho, alguns colados na sola do meu sapato. Outros perdidos por bares e livrarias. Alguns já singrando pela corrente do esgoto. E alguns ainda presos na minha parede interna, a um passo de desprenderem-se. Mas ainda assim eu não mudei por você. Mudei por mim e por todo o peso carregado nas costas. Eu tentei ser melhor. Tentei ser melhor para mim. Como se a vida ainda tivesse um brilho distante e que não poderia escapar das minhas mãos. Ainda assim eu não sabia o que mudar, talvez eu deveria ter me aceitado. Do que adianta mudar se não sabe o propósito? Só que lá no fundo, guardado há anos eu sabia a resposta. Eu queria novamente ressuscitar aquela garotinha indefesa. E ingênua. Sabia que ela restauraria minha vida e que me faria plenamente feliz. Entretanto, ela não poderia tomar conta de mim. E teriam que conviver as duas, os dois lados da ponte. E eu sempre estaria no meio, tentando me equilibrar sem saber qual caminho percorrer e permanecer intacta com os pés cravados no chão. Então, por que eu mudaria? Para continuar morrendo? Sim, para isso. Para ter mais uma chance comigo, e não com você. Porque sei que você sempre continuou vivo, e só olhou para mim agora. Todo esse tempo fingiu que eu estava bem. Você não olhou além da carcaça, permaneceu fixo nela. E foi isso que te impediu de ver que eu havia mudado, só não sabia se para melhor ou pior. Mas eu havia mudado.

Perder. Desistir. Tentar. Ganhar.

Tento vencer a preguiça. Mas tenho preguiça de tentar.
Tento vencer o medo. Mas tenho medo de falhar.
Tento vencer a dor. Mas sinto dor ao tentar me curar.
Tento vencer o amor. E acabo por me entregar.